Sem dúvida nenhuma,
a mediunidade ainda é um tema, que causa dúvidas e bastante polêmica entre os
umbandistas. Volta e meia nos deparamos com superstições, mitos, medos,
anseios, expectativas as mais diversas, de médiuns novatos e mesmo de alguns,
que já possuem uma experiência mediúnica há bastante tempo.
Invariavelmente,
também escutamos opiniões, declarações, testemunhos, e orientações sobre
mediunidade e a sua prática, formatado por especulações, definidas por
vivências pessoais e conceitos desenvolvidos através do achismo ("eu acho
que...").
Muitas vezes
tomamos conhecimento de médiuns que são menosprezados nos seus trabalhos
mediúnicos, considerados como médiuns que estão com nada, que cometem muitas
gafes ou ratas no exercício da sua mediunidade e cujo trabalho de suas
entidades são assim, como que "pasteurizados", ou seja, mantém um
padrão de verossimilhança com trabalhos já realizados por entidades em outros
médiuns, ou na casa que o médium freqüenta.
Por maior que seja
a abrangência e a difusão da mediunidade, hoje não mais reclusa aos centros
espíritas e os templos umbandistas, as pessoas sempre esperam, no seu íntimo, o
sobrenatural, o maravilhoso, o diferente se manifestar e atuar na prática
mediúnica.
A busca pelo
milagre está enraizado no inconsciente coletivo e o médium se vê transformado
no milagreiro de plantão. Não só ele tem que ter êxito no que faz, mas se esse
resultado puder ser acompanhado do fantástico, do inusitado e do espetacular
melhor ainda.
Se a forma como os
trabalhos são realizados pelas entidades, incorporadas em seus médiuns, não
devem pecar pela padronização, com algo já visto ou vivenciado, o padrão já
serve plenamente de fiel para se julgar o comportamento das entidades nesse
médium, e por conseqüência o próprio médium. Em outras palavras, é necessário
que as entidades se comportem como se espera que seja o seu comportamento.
Assim, o
vocabulário, a manifestação, as ações e reações de uma entidade devem estar
dentro do padrão geral, reconhecido para aquele tipo de entidade, senão o pobre
médium é que leva a pior.
Vejamos o exemplo
de uma entidade Criança ou Erê, como muitos denominam, existem dois padrões
reconhecidos para a manifestação desse tipo de entidade: um é de criança,
criança mesmo (período infantil), o outro é a criança pré-adolescente. Para
cada tipo de padrão das possíveis manifestações da entidade Criança espera-se
que as mesmas reproduzam o comportamento adequado. Assim, uma criança infantil,
deve ser traquina, gostar de doces, balas e confeitos, falar miudinho como
criança, e somente ter atitudes correlatas a qualquer criança encarnada, da
idade que ela representa. As de manifestações pré-adolescentes podem ter um
vocabulário maior, brincadeiras mais elaboradas, discutir alguns assuntos mais
adultos.
Por conta desse
rígido padrão de comportamento, aceito como realidade no universo umbandista, é
que surgem os estereótipos, tais como, a de um médium adulto, vestido de
fraldas, sentado no chão, nu da cintura para cima, com uma chupeta na boca,
segurando uma mamadeira em uma das mãos e um brinquedo na outra. Ou então,
encontramos médiuns femininas incorporando crianças (meninas pré-adolescentes),
com o estereotipo de pomba-gira, só porque já estão entrando na fase da
explosão hormonal, com certeza os hormônios, nesse caso, são os espirituais.
Seguindo essa mesma
linha de padronização, o preto-velho é um escravo, que tem que falar errado o
tempo todo, que certas orientações e conceitos ele jamais pode pronunciar, pois
como oriundo da senzala e sem nenhuma instrução formal, ele não passa de um
analfabeto e inculto. O caboclo então, nem se fala. As pombas-gira, coitadas,
tem que ser todas mulheres da vida, prostitutas, que continuam a realizar as
suas orgias, agora no mundo espiritual, com os exus, que além de serem o diabo
em pessoa, ainda são verdadeiros garanhões.
Realmente, tenho
que às vezes, concordar com os nossos detratores... Sim, de fato somos uma
cultura de periferia, cujos adeptos são pobres, incultos, analfabetos e sem o
mínimo de instrução!
Por favor, me
poupem e me economizem!
Esse estado de
coisas não pode mais perdurar na Umbanda. Temos que quebrar essa barreira de
estagnação que habita em nosso seio e impede a compreensão do poder da Lei
chamada EVOLUÇÃO.
Somos umbandistas,
porque queremos nos encontrar com o Sagrado, desejamos evoluir espiritualmente,
colaborar com a Obra Divina, com a formação de uma consciência planetária
superior, saindo desse ciclo de provas e expiações e assumindo definitivamente
a nossa cidadania espiritual universal.
Não podemos e nem
devemos mais continuar a repassar mitos e lendas, estórias da carochinha,
conversas para boi dormir, o saci, o capeta e a fada do dente. Não devemos mais
nos render aos vícios de comportamento, nem a crenças dogmáticas.
A Umbanda está muito
além do movimento umbandista, e esse se perde no emaranhado de sua estaticidade
produzida, por nós mesmos, os que se dizem umbandistas e que deveriam ter um
sério compromisso com o estudo doutrinário, a ciência, a filosofia e os
conceitos religiosos existentes na nossa religião e propagados pelo mundo
espiritual através das entidades trabalhadoras afins.
Vamos falar
claramente sobre mediunidade?
1. A mediunidade é
uma benção, uma misericórdia divina, uma ferramenta ou instrumento de
comunicação entre o plano dos espíritos desencarnados e o dos espíritos
encarnados (nós, os terráqueos).
2. É uma benção e
uma misericórdia, pois ela é uma adaptação das faculdades, que nós mesmos
perdemos a milhares de anos atrás, quando abusamos das leis universais. Nessa
época tínhamos a faculdade da visão e audição direta com o plano espiritual e
não precisávamos de intermediários para tal função. Sem entrar no detalhamento
do motivo que levou a perda de tais faculdades, precisamos saber somente que,
após perdê-las, o mundo espiritual proporcionou a humanidade essa possibilidade
de contato, através dos canais mediúnicos. Determinadas modificações no
psiquismo humano gerou a mediunidade.
3. A mediunidade é
algo complexo, que envolve delicados fatores para a existência do processo de
suas manifestações.
4. O primeiro deles
é a necessidade da existência do psiquismo de um ser encarnado. Sem esse campo
de atuação não existe mediunidade. Ou seja, sem o médium, não é possível a
manifestação mediúnica de qualquer espécie. Parece uma coisa óbvia, mas parece
que as pessoas esquecem dessa obviedade ao analisar, criticar e classificar um
médium ou a mediunidade alheia.
5. A segunda é que,
no caso da incorporação e discorreremos nesse artigo somente sobre este tipo de
mediunidade, necessário se faz a existência de uma entidade espiritual, nesse
caso, um ser totalmente a parte do médium. Temos, claramente, a interferência
de uma individualidade em outra. Acontece que a entidade não entra no corpo do
médium, nem tão pouco anula a individualidade que ocupa como muitos acreditam.
6. Se não existe
anulação da individualidade do médium, queremos dizer com todas as letras que
são raros médiuns inconscientes.
7. Afirmo isso, sem
constrangimento nenhum, pois na acepção do conceito que se disseminou no mundo
mediúnico é que na dita mediunidade inconsciente, não existe nenhuma
interferência do médium, e a tão falada inconsciência ainda serve para
credibilizar a manifestação mediúnica e por conseqüência o próprio médium.
8. Como não existe
interferência, se o psiquismo e, portanto, a individualidade do aparelho
mediúnico continua a existir e logo a se manifestar no laço médium e entidade
espiritual?
9. Sim, é claro que
evidentemente podem acontecer lapsos de memória, problemas de solução de
continuidade, vazios, trechos sem definição clara, passagens desconexas e um
despertar mediúnico com lembranças que mais parecem um sonho, que não se
consegue recordar direito, no entanto, no exercício da mediunidade o psiquismo
do médium está plenamente atuante. Afinal, a entidade precisa desse psiquismo
ligado para poder atuar.
10. Em outras
palavras e levando em consideração as devidas proporções, para você ler esse
texto eu precisei de um software (psiquismo) chamado processador de texto, para
que o computador (médium) conseguisse formatar este artigo e você (consulente)
pudesse interagir comigo (entidade espiritual). Ora, eu somente pude formatar
esse texto na forma, como você está lendo, com esse tipo e tamanho de fonte de
letra, como essa cor etc., porque encontrei um processador de textos
(psiquismo) que me permitiu fazê-lo. Um processador mais simples, talvez não me
permitisse colorir o texto. Portanto, a capacidade e o conhecimento encontrado
no psiquismo do médium é que possibilita à entidade a qualidade de sua
manifestação.
11. Desenvolvimento
mediúnico é nada mais, nada menos, do que proporcionar ao médium condições dele
se tornar um fiel tradutor da manifestação das entidades que ele incorpora. O
médium é um filtro para manifestação da entidade, quanto menos impurezas
(interferências) este filtro tiver, mais fiel será a manifestação da entidade
espiritual. A inconsciência, colocado sob este ponto de vista, é diretamente
proporcional à capacidade de fidelização do médium para a comunicação do guia
espiritual.
12. Outro fato, que
muita gente esquece ou não percebe, é que a entidade não fala diretamente
através do médium, já que não existe posse. A linguagem do espírito é o
pensamento, logo a entidade transmite o seu pensamento para o psiquismo que
está interagindo e o médium então catalisa essa informação e repassa para
frente. Esse processo é ato contínuo e a catalisação seu principal segredo.
Devemos lembrar sempre que a entidade depende do médium e de seu psiquismo e
que também estamos falando de um processo sutil e delicado em que energias
espirituais estão atuando como facilitadores para a prática mediúnica. Sim,
próximo ou longe do seu aparelho mediúnico, a entidade realiza diversas
ligações energéticas com o corpo espiritual do médium para poder tanto
manifestar seus pensamentos, como para caracterizar sua personalidade
espiritual.
13. Ao contrário do
que todos pensam, o médium deve procurar estudar e ter conhecimentos
suficientes para exercer a sua mediunidade, já que a entidade se utiliza desta
cultura pré-existente no psiquismo do médium, inclusive dos arquivos
inconscientes do mesmo (experiências vivenciadas em outras reencarnações) para
formatar um diálogo fiel ao que deseja transmitir ao consulente. São evocados
lembranças, conhecimento arquivados na memória, mas já esquecidos, enfim, uma
gama de facilitadores que proporcionem uma sintonia fina entre entidade e
médium.
14. Uma entidade
espiritual, na maioria das vezes, está em um estágio evolutivo superior ao
médium que incorpora se não for o caso, pelo menos está atuando em um plano
menos limitador, que permite mais liberdade de ação e conhecimento. Construir
uma ponte que facilite essa interação fiel, entre um psiquismo e outro é o
desafio que a mediunidade impõe a ambos (médium e entidade). As dificuldades
são enormes: individualidades e psiquismos diferentes, planos existenciais
separados por uma barreira dimensional e distanciamento evolutivo são algumas dessas
variáveis, que colaboram para transformar a mediunidade em um processo
complexo, sutil e misterioso. Quanto mais potente, reforçado por conhecimentos
e cultura for o psiquismo do médium, melhores serão as condições para se
produzir interações de qualidade. Não é regra, mas tem seu peso e deve ser
levado em consideração.
15. Ao falarmos em
psiquismo, estamos usando outra forma de denominação, para o que comumente, se
chama animismo. Animismo, na mediunidade é a participação da inteligência
encarnada nas manifestações espirituais. Em outras palavras, é a contribuição
do próprio médium no exercício da sua mediunidade. Considerado um estigma por
muitos, e transformado ao extremo como mistificação, essa contribuição, como
vimos é real e o espírito manifestante, precisa e faz pleno uso dessa faculdade
ao qual, no meu entender, é mais bem conceituada com o termo psiquismo.
Animismo/Psiquismo, não é crime de lesa mediunidade, é necessidade inerente ao
processo de manifestação mediúnica. O psiquismo pode ser comparado ao
períspirito da mediunidade, é a base com o qual a entidade trabalha para gerar
a manifestação de seus pensamentos, desejos e vontades. É o meio que
possibilita a expressão da entidade na matéria.
16. Um último fator
que deve ser levado em conta é a famosa padronização dos processos de
incorporação. Os espíritos que trabalham na corrente espiritual da Umbanda, se
utilizam da roupagem fluídica de caboclos, preto-velhos e crianças, entre
outros, não porque, necessariamente, um dia já foram índios, escravos e
crianças, mas sim porque essas roupagens representam os arquétipos (modelos)
para apresentação dos Mestres da Fortaleza (caboclos), da Pureza (crianças) e
da Sabedoria (pretos-velhos). Exus/Pombas-gira, porque se faz necessário uma
roupagem mais densa para cumprirem os seus papéis de agentes da justiça kármica
e frenadores (repressores) de demandas e magias nos círculos espirituais em que
atuam. Para se ter apenas uma idéia, todos os espíritos que se utilizam da
roupagem fluídica de crianças são espíritos adultos, e que resolvem se
manifestar como crianças, por terem afinidades com o trabalho e o modelo de
Mestres da Pureza.
Acreditamos que
conseguimos levantar um pouco do denso véu que recai e transforma a mediunidade
em algo misterioso e ao mesmo tempo difícil de lidar.
Devemos estar
sempre alertas, para o fato que tanto nós como as entidades espirituais
convivem e somos conseqüência da nossa pluralidade de existências. E que também
estamos sob a vigência da Lei Maior chamada EVOLUÇÃO. Por conta disso, nada,
mas nada mesmo pode ficar estático, impenetrável, insolúvel, misterioso e
incognoscível (que não se pode conhecer) no Universo. Impenetrável, insolúvel e
incognoscível, somente Deus.
Respeitemos, pois,
a mediunidade alheia.
Não sejamos críticos
daquilo que não podemos garantir em nós mesmos.
Não menosprezemos o
trabalho alheio, para mais tarde não sermos nós os menosprezados.
Por maior que seja
a nossa certeza e fidelidade (inconsciência) mediúnica, lembremos que amanhã
podemos nos deparar com uma situação completamente nova que não consigamos
catalisar direito.
Para isso é que
existe uma máxima que diz: médiuns desenvolventes somos todos, para sempre.
Divaldo Franco, o
grande orador espírita, um dia deixou de estudar o tema escolhido para ele
ministrar uma palestra, por que tinha certeza, que nessa hora um espírito se
aproximaria dele e lhe inspiraria. Chegado o momento, chamado ao púlpito, com
centenas de pessoas à frente, Divaldo se desesperou. Nada de espírito algum se
manifestar, e como ele não tinha estudado, nem dele mesmo conseguiria proferir
algo sobre o tema em questão. Quando seu silêncio estava se tornando constrangedor,
sua instrutora espiritual Joanna de Angelis lhe apareceu e chamou a sua
atenção. Aquela seria a última vez que Divaldo seria ajudado por um espírito se
ele não estudasse os temas das palestras antes de efetuá-la. Além de
proporcionar o seu aprendizado individual, estudar os temas permite a Divaldo,
criar um arquivo em seu psiquismo para facilitar a comunicação do espírito
instrutor e na formação da concatenação das idéias a serem transmitidas.
Diante de fatos
como esses, eu prefiro que meus conhecimentos sejam como já foram tachados,
originados de livros e internet, pelo menos eu estudei e pesquisei bastante;
que eu seja um médium que não está com nada e que cometa gafes e ratas no
exercício da minha mediunidade, eu prefiro estar em constante desenvolvimento e
aprimoramento mediúnico, ou como já disse Raul Seixas, "Eu prefiro ser,
essa metamorfose ambulante".
Agradeço a todas as
entidades que escolheram trabalhar com este médium (falho e cheio de defeitos),
com certeza, elas sim, acreditam na minha capacidade e estão satisfeitos com os
resultados que alcançam.
Em resposta a todas
as críticas a minha mediunidade, digo apenas o seguinte: os cães ladram e a
caravana passa.
Publicado por: Caio
de Omulu
o médium pode deixar de ser médium?pode cortar essa ligação com o plano espiritual?
ResponderExcluirEstudar é tão importante ao médium como apenas incorporar seus guias, pois sem ele a umbanda é só achismos e mistificações que não levam a nada, apenas aos próprios médiuns a ficarem perdidos nos terreiros!
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